Publiquei eu há uns dias atrás um post, "Contava-me hoje a minha mãe...", em que fiz alusão a um criado que os meus pais haviam tido no período em que estiveram na Guiné (no início dos anos 60). Aí referi que esse criado, por quem os meus pais tinham especial estima, havia sido morto, como muitos outros guineenses ex-combatentes, por "Nino" Vieira, logo após a saída dos portugueses da Guiné. Num post posterior, "Sobre "Nino" Vieira uma rectificação devida.", corrigi, uma vez que o responsável pelas tais mortes terá sido Luis Cabral, primeiro presidente da Guiné, e não "Nino" Vieira, que só tomou o poder na Guiné, pela força, em 1980. Isto tudo despoletou uma série de conversas com os meus pais que levaram à seguinte descoberta pela minha parte. O tal criado, sempre foi morto pelo "Nino" Vieira, só que não logo após a saída dos portugueses da Guiné, pelo que expliquei atrás, mas em 1986. E outra descoberta, esta mais impressionante. O tal criado, afinal não o era. Era sim um marinheiro da marinha de guerra portuguesa, de nome Paulo Correia, que exercia a função de motorista, e estava, nesse âmbito, ao serviço dos meus pais. E mais impressionante ainda, pela coincidência, esse malogrado Paulo Correia, viria a ser vice-presidente da Guiné. Tendo feito todo um percursso ascendente no PAIGC, e no governo da Guiné (desempenhou vários cargos ministeriais), só interrompido (definitivamente) com o fuzilamento de que foi alvo. A mando de "Nino" Vieira. No seguimento de um julgamento militar, em 1986, em que foi acusado de conspirar um golpe de estado. A minha mãe conta-me que numa ocasião em que foi com este valoroso Paulo Correia à "Granja", local onde iam abastecer-se regularmente de "frescos", lhe terá pedido que parasse numa tabanca (aldeia) à beira da estrada. O Paulo Correia terá então dito à minha mãe algo como, é melhor não parar, que as coisas estão muito instáveis e pode ser perigoso para a senhora... A minha mãe, que não tinha consciência absoluta do que estava já a passar-se, diz que chegou a casa e foi queixar-se amigavelmente ao meu pai dizendo-lhe, o Paulo não quis parar onde lhe mandei, anda com medo não sei de quê! Pouco depois, não sei se dias se meses, o marinheiro Paulo Correia desertou, não voltando a ser visto. Certamente ingressou definitivamente nas suas actividades de guerrilheiro independentista. Demonstrou, no entanto, sempre, grande dedicação, amizade e carinho pelos meus pais e irmãos, enquanto esteve ao seu serviço. Aqui testemunho interessante da mulher de Paulo Correia. E aqui uma outra interessante menção histórica a Paulo Correia, de onde retirei a fotografia.
domingo, 8 de março de 2009
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