quinta-feira, 30 de abril de 2009

Hoje, no Metro!

Hoje tive uma conversa que pelo seu surrealismo relato aqui. Depois de ter estado ontem o dia todo em casa a recuperar de uma gripe que me atacou forte (que eu saiba e felizmente não se tratou da suína), eis que hoje saí de casa para uma tarefa que me fez deslocar a Santa Apolónia. Resolvi ir de Metro. Entrei na estação do Areeiro e comprei o bilhete na máquina própria para o efeito. Entretanto, ouço o som do metro a chegar. Tento despachar-me para o apanhar. Ainda desci as escadas a correr. Mas em vão. Quando cheguei à plataforma estava já a partir. Perdi-o. Sentei-me à espera do seguinte. Cerca de cinco minutos depois, ou nem tanto, entra na estação um novo metro. Ao mesmo tempo que me levanto com o intuito de entrar na carruagem vejo um indivíduo alto e bastante magro surgir do nada, com o olhar fixo nessa mesma carruagem para a qual também eu me dirigia. Trocámos olhares dando sinal de nos conhecermos. Tratava-se de um ex-colega do liceu onde andei. Na verdade, conhecia-o do lado de fora do liceu, dos bancos do jardim, onde passei algumas tardes em actividades, umas mais, outras menos, recomendáveis. Nos últimos tempos tenho-o visto de vez em quando (sei que mora perto de mim junto ao Campo Pequeno), normalmente acompanhado por uma senhora de olhar triste mas determinado, que penso ser a sua mãe. Ele caminha lentamente, absorto, procurando sempre desviar o olhar quando nos cruzamos na rua. Hoje, no Metro, contrariamente ao habitual, logo se dirigiu a mim, sorridente, dizendo - "então, tudo bem?". Respondo-lhe qualquer coisa, possivelmente um "tás bom?", entrando com ele na carruagem do metro. O metro arranca. Observo-o, agora de frente, a não mais de 30 cms. de distância. Reparo, primeiro, na falta de dentes que não procura esconder, depois também no seu olhar. Este denota um estado que, não podendo garantir em absoluto, me faz dizer ter acabado de consumir algum tipo de droga. Pergunta-me - "então, o que tens feito?". Não chego a responder, não sei bem o que lhe dizer. Também não espera muito, logo dizendo, alto e em bom som - "vou ao Intendente comprar branca". Um bocado atrapalhado e sem ter percebido bem, digo - "não percebi!". Ele repete - "vou ao Intendente comprar branca". Respondo-lhe então, olhando de soslaio para o lado à procura de outros passageiros, que constato estarem, claro, de olhar fixo em nós - "ah.. sim!?". Ele insiste - "há lá agora uns guineenses que vendem uma branca muito boa, trazem-na da Guiné". Respondo-lhe novamente - "não sabia!". "É verdade", diz ele, repetindo - "trazem-na da Guiné que aquilo agora tem branca que não acaba, estão cá uns tempos a vendê-la e depois voltam para a Guiné cheios da guita...já comprei a vários guineenses diferentes!". Digo-lhe, procurando mostrar-me entendedor ainda que receptivo à informação que me confidenciava- "não sabia, pensava que vendiam mais no Casal Ventoso!". Diz-me ele - "isso era dantes, agora, branca, compro sempre aos guineenses no Intendente, no Casal ainda há mas é menos, chamon compro nas Olaias, nos prédios novos". Respondo-lhe, "ah, sim...é bom saber!". Remata - "já consegui comprar 1 gr. de branca já baseada, por vinte euros!". Entretanto, a carruagem chega à estação da Alameda. Despeço-me dizendo convictamente que ia para a Expo (na verdade enganei-me pois eu queria ir para Santa Apolónia e por isso devia ter seguido até à Baixa Chiado). "Apanhas a linha vermelha", diz-me ele. Digo que sim dirigindo-me para a porta. Tenho ainda tempo de o ouvir disparar um simpático (!) "estás mais gordo". Penso para comigo, acusando o toque - "já tu estás bem mais magro e, infelizmente, dá para ver porquê!".

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