domingo, 14 de junho de 2009

Leituras

Face a uma biblioteca que necessita ser ampliada, vejo-me na contigência, por vezes, de ler o que me vai chegando, de forma mais fortuita, às mãos. Foi o caso deste livro de António Alçada Baptista, que me foi oferecido pelo meu último aniversário. Ainda que distante do meu pensamento, sobretudo quanto às virtudes (ou falta delas, segundo o escritor) do Estado Novo, não deixam de ser interessantes os seus testemunhos sobre todo um período, pré e pós 25 de Abril, que se apresenta já como (muito) distante para todos os que como eu tinham muita tenra idade aquando da revolução. Interessantes também as suas memórias sobre uma série de personalidades, sobretudo do universo literário, mas não só, com quem privou de muito perto, como Odylo Costa (filho), Jorge Amado, Jorge Luis Borges, Agostinho da Silva, Vitorino Nemésio, Rubem Fonseca, José Escada, Lanza del Vasto, entre outros. De estilo anedótico são as Pequenas Histórias que nos conta, supostamente verdadeiras, no intervalo entre uma e outra das suas recordações mais "sérias" (transcrevo abaixo uma das que me deu mais vontade de rir). Não sendo de urgente leitura, é sem dúvida um livro que, passando-vos pela mão, não se arrependerão se com ele "perderem" algum do vosso tempo.


Uma namorada psicanalista

Acho que não é muito aconselhável ter uma namorada psicanalista porque estão sempre em serviço e, mal a gente espera, estão a analisar os nossos bocejos. Sobre este assunto nada como uma história magnífica do Luís Fernando Veríssimo que me enviaram e que, infelizmente, não sei onde a guardei.
O Luís Fernando Veríssimo, filho do querido e saudoso Érico Veríssimo, é um cronista invulgar. Há uma sua crónica, chamada «O Popular» que é uma pequena obra-prima que devia ser transcrita em todas as selectas.
Como disse, não encontro o papel, mas vou tentar reproduzir a história da psicanalista, procurando ser fiel.
Um homem tinha uma namorada psicanalista e, uma vez que estavam na cama, ela começou com conversa de psicanalista:
- Sim, porque não é só você que está aqui comigo. Está o seu pai, está a sua mãe, está aquele seu professor muito repressivo. E eu também não estou só: está meu pai, está minha mãe, está o Reboredo...
Ele aí interrompeu: - Quem é o Reboredo?
- É o meu primeiro namorado.
- Não. O Reboredo não. Ou sai o Reboredo ou eu vou embora com a minha turma...

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